Cotidiano - Wellington Balbo

Temor da morte: Como evitá-lo?

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Wellington Balbo – Salvador BA

 Em o Céu e Inferno, uma das obras da Codificação Espírita, Allan Kardec  trata do tema temor da morte. Como estamos em novembro, considero ser interessante algumas reflexões de tão palpitante tema.

Por que o homem teme a morte? Essa foi uma das indagações que Allan Kardec propôs na citada obra. Embora uma intuição sussurre nos ouvidos do homem de que a vida não se encerra no túmulo, há o medo do que se considera o desconhecido, e a morte, para um bom número de pessoas é uma mera desconhecida e indesejada. Aliás, é, também, uma passagem para um tempo de dor e sofrimento, ou até mesmo o nada, que o digam os materialistas.

Aliás, muitos afirmam:

Ninguém nunca foi e voltou para contar! Ledo engano, pois diversos médiuns, mesmo antes do advento do Espiritismo, serviram como ponte para que os chamados “mortos” voltassem a fim de dar testemunho de que a vida prossegue além matéria.

Não obstante sermos imortais é preciso que a lei se cumpra, porquanto nosso corpo biológico tem um tempo de vida, é uma máquina e, naturalmente, vence sua validade, o que nos leva a experimentar o fenômeno da morte do corpo físico, mas não do Espírito imortal, pois este é indestrutível.

O temor da morte tem sua utilidade, pois faz com que o homem preserve-se de situações complicadas e não se exponha sem necessidade a perigos que poderiam abreviar sua existência. O instinto de conservação é o responsável por despertar-nos para a importância de manter-nos em segurança e aproveitar os instantes que a vida na Terra oferece para nossa elevação.

Sendo o homem um ser espiritual, certo que, se possível fosse não mergulharia na carne, pois a vida na matéria, embora necessária, limita as atividades do Espírito, prendendo-o aos bem limitados sentidos da vida corporal. Percebe-se, então, que caso o instinto de conservação não existisse, o homem, certamente, se entregaria de modo muito fácil a destruição de seu invólucro carnal.

Eis, ai, a prova da sabedoria de Deus, que nada faz de inútil.

Quanto mais o homem avança em intelecto e moral, mais aproxima-se do Criador, de modo que sua visão vai ampliando-se e o temor da morte vai perdendo pujança, pois o homem passa a compreender que o nada não existe, e constata que ao deixar o corpo a sua essência continua bem viva.

Ele vislumbra o futuro, mais: sabe que o futuro dependerá de suas ações no presente, por isso trata de trabalhar com mais afinco hoje para que conquiste o equilíbrio que, indubitavelmente, proporcionará a ele condições de encarar as provas e expiações como desafios para seu crescimento e não como problemas insolúveis.

Conforme o ser humano vai atingindo a maturidade espiritual, consegue elevar-se além da vida na matéria e, por conseguinte, enxerga na morte do corpo não a destruição total, mas a libertação de seu espírito.

Dar o justo valor ao corpo é uma das formas de libertar-se do temor da morte. Quando se valoriza em demasia a matéria coloca sobre ela uma responsabilidade enorme e, então, quando esta matéria, obedecendo a lei da vida, tem a falência de seus órgãos, o homem, ainda voltado apenas à vida terrena desespera-se, pois pensa que ali, na desagregação das células, houve, também, a desagregação dos laços de amor, de afeto, de si mesmo e das amizades conquistadas.

O Espiritismo diz que não. Os laços de amor não se extinguem com a morte do corpo físico. O sentimento tem sede no espírito imortal e não no corpo perecível e, por isso, tal como o Espírito tem vida independente da matéria, os sentimentos também possuem essa independência.

O temor da morte, pois, sofre um revés chamado conhecimento. Quanto mais o Espírito cresce em conhecimento das leis da vida, mais ele afasta de si o cálice amargo do medo da morte.

Com a conquista da maturidade espiritual a morte já não tem um caráter fúnebre, de perda da identidade, mas, sim, de transformação, de retorno ao mundo espiritual que, diga-se, precede o mundo físico.

As lágrimas de revolta e inconformação cedem lugar ao até logo, repleto de esperança no futuro de bênçãos que aguardam aqueles que já romperam com as incredulidades.

O homem, neste estágio de maturidade espiritual, já não mais necessita tanto do instinto de conservação, pois a consciência empresta-lhe condições para saber que não deve se expor sem necessidade e que o corpo é, em realidade, amigo de seu Espírito na travessia rumo ao infinito.

 

Apego, um dos motivos de temor da morte.

Segundo o médico e tanatólogo, Evaldo D’Assumpção, a palavra apego é de origem latina e significa juntar, colar, pegar. É o apego que produz o receio da perda. E quanto mais se receia a perda, mais se apega ao objeto, pessoa, situação ou, como no tema abordado, ao corpo físico.

1 – Apego ao corpo físico: quem leva a vida como se o corpo fosse tudo, esquece o espírito, esquecendo o espírito, esquece de si mesmo, pois brinda apenas o corpo com os prazeres da vida. Então, trabalha apenas para saciar o corpo. Rende culto demasiado à beleza física e a coloca como parte essencial de sua existência. Quando os anos, implacáveis, batem-lhe à porta, tenta, de todas as formas, enganar o tempo. Consegue por um determinado período, porém, por mais técnicas e tecnologias desenvolvidas atualmente prolongando a vida na matéria, não se consegue vencer a morte biológica. Neste atual estágio de evolução do planeta a morte biológica é invencível. Muitos revoltam-se quando a morte biológica captura alguém ainda jovem, belo e com futuro promissor pela frente. O Espiritismo informa, porém, que se deve treinar o desapego do corpo valorizando a vida do espírito, porque esta modalidade de morte chegará cedo ou tarde. Treinar o desapego do corpo físico é aceitar que não se tem gestão sobre os desígnios de Deus. O Criador estabeleceu leis, e elas hão de se cumprir. Não há objeções quanto ao corpo bonito e torneado desde que ele não se torne objetivo único do indivíduo. Desapegar-se do destrutível, perecível e temporário é fundamental à sanidade.

2 – Apego às pessoas e ou objetos: é muito comum proferir a seguinte frase: Meu filho! Meu marido! Meu irmão! Isso no tocante às pessoas. Com relação ao objeto dá-se o mesmo: Meu carro! Minha empresa! Meu livro!

Frases já consagradas por todos e não haveria problema caso reproduzissem apenas a força da expressão. Todavia, não é assim que ocorre. O sentimento de possuir pessoas ou objetos faz com que se apegue a eles como se fossem parte de nosso ser e não pudessem “descolar” de nós. Mas eles descolam, e quando descolam o sofrimento é mais intenso naquele que ainda não aprendeu a dizer adeus. Desapegar-se é compreender que nada e nem ninguém nos pertence e que o desapego não é sinônimo de desamor, mas de inteligência emocional. E como conquistar a inteligência emocional que possibilita desapegar-se? O jeito é trabalhar-se intimamente para internalizar que pessoas e coisas chegam e vão embora de nossas vistas a todos os instantes. Viajam para aqui e acolá, e esta viagem acontece independentemente de nossa vontade. É preciso aprender a aceitar as coisas que não se pode modificar e conviver de maneira pacífica com a dor proporcionada pela “perda”.

Ou seja, desapegar-se não é viver sem dor, mas entender que, apesar dos pesares, a vida prossegue e se faz fundamental prosseguir com a vida.

3 – Apego às situações: do mesmo modo que se trabalha o desapego diante do corpo físico, pessoas e objetos, deve-se trabalhar o desapego das situações. É muito comum algumas pessoas ficarem presas ao passado, mortas no presente, contudo vivas num passado distante ou próximo. Ah! Como minha vida era de prazeres quando eu tinha aquele bom emprego! – exclama o sujeito cuja situação anterior já está “morta”. O emprego já acabou, a empresa faliu, a situação financeira pertence a outro tempo, mas ele ainda está apegado ao que passou. Quem vive o passado, quase sempre, mata o presente. Desapego é, pois, forma de viver mais leve.

 

Medo de enfrentar a dor

 

Um ponto a considerar na sociedade hodierna é a pouca paciência para com a dor. O temor da morte também é o medo de sentir a dor da partida. É claro que não se prega a valorização da dor, mas, sim, o entendimento de que a dor no estágio evolutivo da Terra vez ou outra aparecerá. O conhecimento, neste ponto, situa-se como um analgésico, pois com conhecimento sentimos que a dor ameniza. Todavia, nem mesmo o conhecimento – repito, neste atual estágio – é condição para que a dor seja eliminada. Como pedir para uma mãe não sentir seu coração dolorido ao ver um filho partir? Portanto, o conhecimento ameniza, entretanto não elimina a dor. Eis porque é prudente deixar de temer a dor. Fortalecer-se a fim de que ela – a dor – não seja insuportável.

E como se fortalece?

1 – Conhecimento

2 – Prece

3 – Trabalho no bem

O conhecimento faz-nos amadurecer, a prece liga-nos aos bons Espíritos e estes vem em nosso socorro nos momentos mais complicados e, por fim, o trabalho no bem ocupa nossa mente e dá-nos a saborosa sensação de estarmos sendo úteis.

Esta é a trinca a fortalece-nos diante de qualquer situação dolorosa.

 

Por que o espírita não teme a morte?

Kardec, em O Céu e o Inferno, escreveu que os espíritas não temem a morte a considerar que todos vivenciam plenamente o conceito da imortalidade da alma. Como sempre, Kardec muito generoso. Pode-se adaptar seu pensamento para:

Por que o espírita não deve temer a morte?

Não deve temer porque, como Kardec diz, a alma já não é mais uma abstração. O Espiritismo é a Ciência que desvendou a imortalidade da alma. Com o Espiritismo não há mais a incerteza do futuro e a angústia advinda do nada.

O espírito imortal é indestrutível e os laços de amor construídos ao longo do tempo também obedecem a esta ordem.

Portanto, nós e nossos afetos vivemos e continuaremos a viver. Esta mensagem já é bastante alentadora e pode servir para que, enfim, percamos o medo da morte, transformando o receio em certeza de que o cumprimento da lei biológica, na questão da morte física, não dilacera o espírito imortal.

Pensemos nisto.

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