Richard Simonetti

VISITA DE MARIA A ISABEL

Richard - Visita de Maria

Richard Simonetti
Livro.: Boas Idéias – CEAC Editora

 

Relata o evangelista Lucas (Capítulo I) que Maria, logo após o encontro com Gabriel, ao saber que Isabel estava grávida, decidiu visitá-la.

Eram parentes, não se sabe em que grau; primas, talvez, segundo a tradição.

Viagem longa de Nazaré a Ain-Karim, perto de 150 quilômetros, o que demandava uns seis dias de caminhada. Pouca gente utilizava carruagens ou montarias. Viajava-se no pé dois mesmo.

Quando as duas se encontraram ocorreu o inesperado:

Isabel, segundo o relato evangélico, ficou cheia de um Espírito santo, e proclamou altissonante:

 

Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre.

            Que fiz para merecer a visita da mãe de meu Senhor?

           

            Em seguida, mais tranquila, como se despertasse de um transe, Isabel explicou a Maria, que certamente surpreendera-se com aquela inusitada acolhida.

 

Mal me chegaram aos ouvidos as palavras com que me cumprimentaste, a criança saltou de alegria dentro de mim.

 

            Observe amigo leitor:

Isabel exprimiu em altos brados a satisfação pela presença da prima.

Estranho, não é mesmo?

Imagine um familiar a recebê-lo com essa ruidosa euforia.

Fundiu a cuca! – seria a conclusão óbvia.

Maria pensaria o mesmo se Isabel não explicasse que se tratava de uma manifestação da criança que asilava em seu seio. Agiu, portanto, como porta-voz, digamos médium, do Espírito que reencarnava por seu intermédio.

 

 

***

 

Segundo a Doutrina Espírita, tão logo se estreitam os laços que o prendem ao novo organismo, no processo reencarnatório, após a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, o Espírito tende a perder a consciência.

Assim deverá ficar até completar sete anos, após o nascimento, quando começará a despertar, assumindo lentamente o controle de suas ações, no exercício do livre-arbítrio.

Isso ocorre porque o corpo humano não é simples roupagem.

Estabelece-se estreita ligação, molécula a molécula, tão íntima, tão completa, que o reencarnante passa a subordinar-se, até para exercitar a consciência de si mesmo, às estruturas orgânicas.

Assim, nos primeiros anos, ele se situa como um sonâmbulo, às voltas com precário veículo de comunicação que não consegue dominar.

Há exceções.

Espíritos evoluídos conservam a lucidez nos primeiros meses de gestação. Movimentam-se na Espiritualidade. Percebem o que acontece ao seu redor.

Assim ocorreu com o filho de Isabel.

Identificando a presença de Maria, rejubilou-se, originando a agitação da criança no ventre materno.

Naquele momento Isabel foi médium do próprio filho.

Por seu intermédio ele abençoou com efusão a jovem visitante, revelando-se honrado com a presença daquela que seria a mãe do mensageiro divino.

                                                          

***

 

O reencarnante permanece em sintonia mental com a gestante, influenciando seus estados de ânimo.

Isso é tão marcante que podemos até identificar algo da personalidade e das tendências do filho pelas reações de sua mãe.

Gestação tranquila, feliz, sem complicações – Espírito em paz.

Gestação difícil, extremo nervosismo, muito sofrimento – Espírito atribulado.

Mas… cuidado, caro leitor!

Não estamos diante de uma fórmula infalível.

É preciso considerar, também, as condições físicas e psíquicas da gestante e os problemas gerados por suas próprias limitações e desajustes.

 

***

 

A influência do reencarnante envolve, geralmente, experiências do pretérito.

Dizia uma senhora:

– Durante minha gestação, há quinze anos, experimentei inexplicável animosidade por meu marido. Mal suportava sua presença. Após o parto passou tudo. Quem briga com ele hoje é nosso filho.

Outra senhora:

– Nunca amei tanto meu marido como na gestação de minha filha. Experimentava imensa ternura por ele. Continuo amando, mas nada que se compare àqueles tempos. Ela, agora uma adolescente, é vidrada no pai.

Temos nestes dois casos perfeitamente caracterizada a ligação do reencarnante com o pai.

No primeiro, um desafeto recalcitrante nos propósitos de reconciliação.

No segundo, um amigo querido a estreitar laços de afetividade.

Semelhantes experiências envolvem outros membros da família, particularmente irmãos. Alguns se amam; outros se detestam, instintivamente. Sem admitir que já se conhecessem antes fica difícil explicar.

A gestante, mais que ninguém, experimenta essas emoções.

Terá grande carinho pelo amigo que aconchega ou inexplicável rejeição se é alguém que lhe causou sofrimentos no passado.

Ainda aqui é preciso prudência nessas avaliações, porquanto há que se considerar como ela recebe a maternidade.

Se vibra com a perspectiva de ser mãe, experimentará imensa ternura pelo filho, ainda que se trate de um desafeto.

Se a encara como um transtorno, poderá refugar até mesmo alguém muito querido.

 

 

***

 

Vale destacar que o filho também é sensível às vibrações que recebe, particularmente dos pais.

Imaginemos que se sintam insatisfeitos.

Não queriam, não estavam preparados, não era hora…

Essa reação geralmente ocorre de jovens que simplesmente ficam, em ligações efêmeras sem compromisso, nestes tempos de libertinagem sexual, confundida com liberdade.

Isso poderá causar graves traumas no reencarnante, a repercutirem negativamente em sua personalidade. É, talvez, o que de pior pode acontecer, nesse período em que ele se situa frágil e dependente.

Por outro lado, pais que conversam com o nenê ainda no ventre materno, que o envolvem com vibrações de amor, de carinho, demonstrando o quanto o desejam e amam, oferecem inestimável apoio.

Geralmente o Espírito reencarna relutante, cheio de dúvidas.

Não é fácil o mergulho na carne, com a perda da consciência e a subordinação a um veículo de matéria densa que reduz suas percepções, apaga sua memória e limita seus movimentos.

É bem mais complicado nascer do que morrer.

Se os pais o recebem com carinho e solicitude, demonstrando amor, fica mais fácil e tranquilo, ajudando-o a superar seus temores.

 

 

***

 

Como vemos, a Psicologia do futuro terá um grande campo a pesquisar, quando fizer a descoberta fundamental – o Espírito imortal.

Teremos, então, a solução de problemas da gestação que deixam perplexos os próprios médicos.

Todavia, assim como no transe mediúnico comum, a influência do reencarnante é perfeitamente controlável, desde que a gestante mantenha serenidade e confiança, em clima de oração e vigilância.

Assim poderá anular as influências perturbadoras ou acentuar as impressões felizes colhidas do filho.

Em qualquer problema de influência espiritual convém não esquecer jamais a força invencível de um coração sintonizado com o Evangelho.

As lições de Jesus devem ser cultivadas particularmente em favor de viajores da Eternidade que a mulher recebe em seu seio, fazendo-se ponte abençoada para que realizem estágio depurador no educandário terrestre.

 

Livro nº 23 – 1997

Paz na Terra

Vida de Jesus – Do nascimento ao início do apostolado

Editora: CEAC-Bauru

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