Estudando Espiritismo

Atendimento a enfermos espirituais na reunião mediúnica

Marta Antunes Moura

Os Espíritos necessitados de auxílio que se manifestam nas reuniões mediúnicas fazem parte de uma vasta categoria de enfermos que revelam diferentes graus de sofrimento. Entre eles encontramos desde os que ignoram a própria desencarnação até os perseguidores (obsessores) de encarnados e/ou de desencarnados. Entre os dois extremos enorme diversidade de sofrimento que revela as diferentes  necessidades de cada comunicante.

Ainda que o sofrimento apresente pontos semelhantes ou comuns, o sofrimento, em si,  é absorvido de forma diferenciada por cada ser humano, independentemente dele se encontrar desencarnado.  Neste sentido, cada comunicação de um  Espírito sofredor merece atendimento atento e específico,  considerado um caso especial, sobretudo pelo médium psicofônico e pelo esclarecedor (dialogador/doutrinador).

É importante considerar, também, que nem todos os Espíritos necessitados irão manifestar-se mediunicamente. Por maior que seja o número de médiuns ou de reuniões mediúnicas, apenas alguns Espíritos iram comunicar-se, ou seja, uma parcela daqueles que foram selecionados, previamente, pela direção espiritual da reunião, os quais irão atuar como representantes das diferentes categorias de sofrimento.

Cada comunicação de um Espírito que sofre é um exemplo, habilmente selecionado pelos orientadores da Vida Maior para esclarecer os encarnados que compõem a reunião mediúnica. São lições vivas que merecem ser ouvidas, compreendidas e refletidas não só pelo médium e pelo dialogador, mas também por todos os que fazem parte da reunião. É preciso, pois, ponderar de forma mais criteriosa o atendimento coletivo ou simultâneo que alguns grupos espíritas utilizam no atendimento aos enfermos espirituais, sobretudo quando estes se revelam completamente desarvorados, alheios ao seu estado de  desencarnação, equivocados em relação a pessoas e acontecimentos ou, o que é mais grave, quando se trata de manifestação de obsessores e perseguidores endurecidos.

Daí o Espírito André Luiz recomendar: “[…] Compreendam os dirigentes e seus assessores que o esclarecimento aos desencarnados sofredores é semelhante à psicoterapia e que a reunião é tratamento em grupo, cabendo-lhes, quando e quanto possível, a aplicação dos métodos evangélicos.”1

Para que isto aconteça é necessário que todos os integrantes da reunião se esforcem para agir como um todo coletivo, como esclarece Allan Kardec:

Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das dos seus membros, formando uma espécie de feixe. Ora, quanto mais homogêneo for esse feixe, tanto mais força terá.  […] Já que o Espírito é de certo modo alcançado pelo pensamento, como nós o somos pela voz, 20 pessoas, unindo-s com a mesma intenção, terão necessariamente mais força do que uma só, mas, a fim de que esses pensamentos concorram para o mesmo fim, é preciso que vibrem em uníssono, que se confundam, por assim dizer, em um só, o que não pode se dar sem o recolhimento.2

Um bom atendimento aos Espíritos enfermos não desconhece que estes apresentam, em geral,   a necessidade intrínseca de desabafar,  de expor a sua dor,  que é expressa das mais variadas formas. A regra é, pois, ouvi-los com gentileza e atenção, auxiliando-os durante a catarse, a fim de que esta lhes produzam algum alívio. O médium e o dialogador não devem, contudo, permitir que o  desabafo lhes fuja do controle, situação que poderá desarmonizar o grupo,  inviabilizando a comunicação. A catarse pelo desabafo é sempre útil, “(…) desde que a integridade dos médiuns e a dignidade do recinto sejam respeitadas, considerando, porém, que as manifestações devem [também] obedecer às disciplinas de tempo.”3

O êxito do atendimento ao Espírito que sofre ou que faz sofrer, na reunião mediúnica, depende da atuação conjunta de todos os participantes do grupo, ainda que o médium psicofônico e o dialogador se destacam no contexto:  o primeiro porque viabiliza a manifestação do enfermo, através dos mecanismos do transe mediúnico. O segundo porque canaliza as vibrações benéficas oriundas de si mesmo e do grupo, e, por meio da palavra fraterna, esclarece com lucidez e bondade.

Simultaneamente ao que acontece no plano físico, ensina o Espírito Efigênio Vitor que na dimensão física da reunião, desenvolve  a ação conjunta dos trabalhadores desencarnados, destacando-se as atividades  realizadas pelos Arquitetos Espirituais: “Em cada reunião espírita, orientada com segurança, temo-los prestativos e operantes, eficientes e unidos, manipulando a matéria mental necessária à formação de quadros educativos.”4 O orientador espiritual, prossegue em suas elucidações:

É assim que as forças mento-neuro-psíquicas de nosso agrupamento são manipuladas por nossos desenhistas, na organização de fenômenos que possam revitalizar a visão, a memória, a audição e o tato dos Espíritos sofredores, ainda em treva mentais.

Espelhos ectoplásmicos e recursos diversos são também por eles improvisados, ajudando a mente dos nossos amigos encarnados, que operam na fraseologia assistencial, dentro do Evangelho de Jesus, a fim de que se estabeleça perfeito serviço de sintonia, entre o necessitado e nós outros.

Para isso, porém, para que a nossa ação se caracterize pela eficiência, é necessário oferecer-lhes o melhor material de nossos pensamentos, palavras, atitudes e concepções.5

Neste sentido, inserimos aqui alguns conselhos do benfeitor espiritual José Xavier, antigo militante do Espiritismo em Pedro Leopoldo, desencarnado em 1939, a respeito do atendimento aos enfermos espirituais:

No trato com os nossos irmãos desequilibrados, é preciso afinar a nossa boa vontade à condição em que se encontram, para falar-lhes com o proveito devido.

Vocês não desconhecem que cada criatura humana vive com as idéias a que se afeiçoa.

(…)

Aqui, na esfera em que a experiência terrestre continua a mesma, os problemas dessa ordem apenas se alongam.

Temos milhares de irmãos escravizados à recordação do que foram no passado, mas, ignorando a transição da morte, vivem por muito tempo estagnados em tremenda ilusão!…

 (…)

Sentem-se vivos, tão vivos, como na época em que se embebedaram de mentira, fascinação e poder.

O tempo e a vida correm para diante, por fora deles, mas, por dentro, imobilizaram a própria alma na fixação mental de imagens e interesses, que não mais existem senão no mundo estreito desses infelizes irmãos.

Querem apreço, consideração, apoio, carinho…

Não pedimos a vocês estimular-lhes a fantasia, contudo, lembramos a necessidade de nossa tolerância, para que lhes possamos contornar, com êxito, as complicações e labirintos, doando-lhes, ao mesmo tempo, idéias novas com que empreendam a própria recuperação.

Figuremo-los como prisioneiros, cuja miséria não nos deve sugerir escárnio ou indiferença, mas sim auxílio deliberado e constante para que se ajudem.

Cultivemos, assim, a conversação com os desencarnados sofredores, sem curiosidade maligna, ouvindo-os com serenidade e paciência.

Não nos esqueçamos de que somente a simpatia fraternal pode garantir a obra divina do amor[1]

Bibliografia

1.    xavier, francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Pelo Espírito André luiz. 1ed. Rio de Janeiro. FEB, 2007. Cap. 34, p. 142.

2.    kardec, allan. O livro dos médiuns. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. 1 Imp. Brasília: FEB, 2013. Segunda Parte, cap. XXIX, item 331.

3.    xavier, francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Pelo Espírito André luiz. 1ed. Rio de Janeiro. FEB, 2007. Cap. 34, p. 141.

4.    xavier, francisco Cândido. Instruções psicofônicas. Por diversos Espíritos.  9 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.  Cap.44 (mensagem do Espírito Efigênio Vítor), p.203.

5.    ________.  p.205.

6.    ________. cap. 4, p. 29/31.

[1] Francisco Cândido Xavier. Instruções Psicofônicas,

 

Comment here