Crônicas - Humberto Campos

NOS LIMITES DO CÉU

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Pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos).

 Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Luz Acima. Lição nº 04. Página 27.

 

No extremo limite da Terra com o Céu, aportou um peregrino envolto em nevado manto.

Irradiava pureza e brandura. A fronte denunciava-lhe a nobreza pelos raios diamantinos que emitia em todas as direções. Extenso halo de luz assinalava-lhe a presença.

Recebido pela entidade angélica, que presidia à importante passagem, apresentou sua aspiração máxima: – “ingressar definitivamente no paraíso, gozar-lhe o descanso beatífico”.

O Divino funcionário, embora admirado e reverente perante espírito tão puro, esboçou o gesto de quem notava alguma falha menos visível ao olhar inexperiente e considerou:

– Meu irmão, rendo homenagem à altura de tuas vestes, entretanto, vejamos se já adquiriste a virtude perfeita.

Sorridente, feliz, o viajor vitorioso pôs-se à escuta.

– Conseguiste entesourar o amor sublime? perguntou o Anjo, respeitoso.

– Graças a Deus! – informou o interpelado.

– Edificaste a humildade?

– Sim.

– Guardaste a esperança fiel?

– Todos os dias.

– Seguiste o bem?

– Invariavelmente.

– Cultivaste e pureza?

– Com zelo extremado.

– Exemplificaste o trabalho construtivo?

– Diariamente.

– Sustentaste e fé?

– Confiei no Divino Poder, acima de tudo.

– Ensinaste a verdade e testemunhaste-a?

– Com todas as minhas forças.

– Conservaste a paciência?

– Sem perdê-la jamais.

– Combateste os vícios em ti mesmo, tais como a vaidade e o orgulho, o egoísmo e o ciúme, a teimosia e a discórdia?

– Esmeradamente.

– Guerreaste os males que assolam a vida, como sejam o ódio e a perversidade, a insensatez e a ignorância, a brutalidade e a estupidez?

– Sempre.

O Anjo interrompeu-se, refletiu longos minutos, como se estivesse em face de grave enigma, e indagou:

– Meu amigo, já trabalhaste no inferno?

– Ah! isto não! – respondeu o peregrino, escandalizado.

– Como haveria de ser?

O fiscal da celeste alfândega sorriu, a seu turno, e observou:

– Falta-te semelhante realização para subir mais alto.

– Oh! que contra-senso! – aventurou o interessado – como servir entre gênios satânicos, de olhos conturbados pela permanente malícia, de ouvidos atormentados pela gritaria, de mãos atadas pelos impedimentos do mal soberano, de pés cambaleantes sobre o terreno inseguro, com todas as potências da alma perturbadas pelas tentações?

– Sim meu amigo – acentuou o Preposto Divino – o Bem é para salvar o mal, o Amor foi criado para que amemos, a Sabedoria se destina em primeiro lugar, ao ignorante.

A maior missão da virtude é eliminar o vício e amparar o viciado.

Por isto mesmo, o Céu não perde o inferno de vista.

E, perante o assombro do ouvinte, rematou:

– Torna à Terra, desce ao inferno que o homem criou e serve ao Senhor Supremo, voltando depois… Então, cogitaremos da travessia.

Lembra-te de que o Sol, situado cerca de cento e cinquenta milhões de quilômetros além do teu mundo, lança raios luminosos e salvadores ao mais profundo abismo planetário…

Em seguida, o controlador da Porta Celestial cerrou a passagem ligeiramente entreaberta e o peregrino, de capa lirial, espantadiço e desapontado, sentou-se um pouco, a fim de meditar sobre as conquistas que havia feito.

 

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