Estudando Espiritismo

O Mal da Vírgula

Valdenir

imagesPouso Alegre/MG, 25 de setembro de 2015.

             Um de nossos maiores equívocos é acrescentar a vírgula onde ela não cabe. Maior exemplo disso é o que fazemos com os textos bíblicos:

“Não matarás.” – aí substituímos o ponto final pela vírgula e acrescentamos nosso parecer:

– “Não matarás, desde que o indivíduo tenha a mesma cor de nossa pele, a mesma identificação religiosa, torça pelo mesmo time, seja da mesma etnia e tenha as mesmas convicções políticas”.

– “Não levantarás falso testemunho, a menos que o testemunho seja para me isentar de responsabilidades e desconfortos que abalariam minha imagem, tranqüilidade e conceito perante a sociedade”.

– “Não roubarás, apenas substituirás o verbo roubar pelo verbo adquirir, tornando lícita toda ação neste sentido que se tomar para melhor equalização econômica de acordo com o grau de aplicabilidade dos recursos para fins pessoais”.

Existem muitas maneiras de se “maquiar” e “desvirtuar” uma colocação, por mais simples e concreta que ela seja, utilizando-se de termos rebuscados e pouco usuais, para confundir e tentar justificar o que a consciência repele.

Este artifício sempre foi utilizado em toda trajetória da humanidade, principalmente nos tempos atuais, em larga escala.

Não estou me referindo às pessoas que têm um cargo ou função de alta envergadura. Estou me referindo a todos nós, seres humanos ainda falhos e em processo de aprendizagem, que diariamente acrescentam vírgulas a leis civis e morais, adulterando seu sentido mais puro, na tentativa de justificar os devaneios de nossa irresponsabilidade. Poderia citar as discrepâncias dos Césares romanos, as aberrações da Idade Média, a insensatez das Cruzadas, o terror da Inquisição, como forma de retratar os terríveis enganos da interpretação tendenciosa e má. Porém, prefiro retratar a atualidade que nos cerca, onde as leis morais foram todas adulteradas por vírgulas particulares, inserindo em seu contexto legítimo e sadio a pobreza de raciocínio e de bons valores que ainda somos portadores.

O legado que nos fora destinado através dos mártires do Cristo, que deixaram o suor, lágrimas e sangue no solo que pisamos, deveria ser mais respeitado. Não somos mais “crianças espirituais”, irresponsáveis pela ignorância natural. Somos já adultos, alertados por inúmeras leis e ensinamentos aos quais insistimos em repelir ou adulterar.

Deixamos de lado o trabalho do desenvolvimento do pensamento e colocamos a responsabilidade da nossa forma de pensar e agir em anônimas interpretações alheias, às quais culparemos sem dó nem piedade quando o peso da culpa começar a nos envergar.

Vivemos uma fase em que não dá mais pra usar a desculpa da ignorância. Com o alastramento das informações por inúmeros veículos de comunicação rápida, é praticamente impossível não se deparar com as leis morais que nos regem. Nossa casuística ainda nos fornece elementos para ludibriar ou tentar ocultar o que é certo e direito, deturpando nossa visão e nublando o horizonte do entendimento reto e seguro. Só que isso tem um preço:

– Por que será que por toda parte existem miséria, sofrimento e dor?

– Porque esta é a colheita das adulterações interpretativas que nosso livre-arbítrio elegeu no passado e que nosso impulso egoísta transformou em ação. Toda ação tem uma reação.

– Valeu a pena?

– Não valeu!

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