Orson Peter Carrara

Parece o Cássio ou parece o Alexandre?

 Orson Peter Carrara

Esposa e eu somos pais de filhos gêmeos, após a primogênita Cíntia. Estão hoje caminhando para os 40 anos. Não são idênticos, até porque foram duas bolsas, mas são os chamados “gêmeos fraternos”. Todavia, guardam muita semelhança. A mãe nunca se confundiu, mas eu já troquei os nomes várias vezes.

Vez por outra olhamos um deles, seja de perfil ou de costas e até mesmo de frente, e embora saibamos de qual se trata, a semelhança é incrível. A ponto de dizermos: olha como parece…

Adultos, resolveram ambos deixar barba, aí ficou ainda mais complicado. Para as pessoas de pouca convivência, a confusão é sempre presente (tanto que ninguém arrisca chamar pelo nome) e para aqueles que não sabem do irmão gêmeo, as situações são bem engraçadas. Quando eram pequenos, na fase escolar, os colegas ligavam e chamavam pelo nome de ambos, como a indicar que tanto fazia ser um como ser o outro.

As situações são as mais diversas a ponto de quando são cumprimentados por amigos que não são comuns a ambos, a pessoa não consegue entender porque a reação ao cumprimento foi diferente ao habitual. Afinal porque ele reagiu diferente? Sem saber a pessoa que se tratava do outro…. Em filas, abastecimento de veículos, padarias e outros lugares, é comum que sejam confundidos. Nada mais natural, pois são muito parecidos. Houve até uma “denúncia” de uma colega para a namorada de um deles de que “seu namorado estava com outra mulher na pizzaria”. Mas não era ele, era o outro…  Situação bem peculiar e engraçada essa.

A porcentagem de gêmeos no Brasil é relativamente expressiva, em torno de 20%. O tema abre perspectivas imensas, envolvendo estatísticas, probabilidades, fatores genéticos, chances da gestante com histórico familiar ou não, cuidados envolvidos, fertilidade ou infertilidade, inseminação artificial e, claro, o próprio comportamento, habilidades, hábitos e preferências de gêmeos – às vezes totalmente diversos e muitas vezes muito semelhantes. Sem esquecer o comportamento dos pais também, o relacionamento com irmãos, as histórias curiosas que se desenvolvem com esse tipo de nascimento – mesmo envolvendo o casamento depois na vida adulta –, entre outros fatos que podem ser pesquisados, com rico material disponível.

Muitas reportagens e mesmo filmes já foram produzidos envolvendo a questão, onde mesmo o nome é fonte de curiosidades e informações que produzem muita surpresa, dado o histórico existente nos diferentes países sobre essa peculiar realidade, quando não ocorrem ainda os casos de mais filhos numa mesma gestação.

Mas todo esse preâmbulo não teve outra finalidade senão perguntar: e o Espiritismo o que diz? Afinal porque nascem gêmeos? E os siameses? Alguns foram separados, outros casos não permitiram essa cirurgia. Qual a causa de todo esse desdobramento tão variável?

Sugiro ao leitor buscar as questões 203 a 217 de O Livro dos Espíritos. Especialmente nas questões 211 a 214 onde a abordagem é mais específica. Tais questões abrem notável apreciação, inclusive sobre afinidade ou falta dela. Afinal a gestação gemelar pode significar afinidade entre espíritos ou necessidade corretiva para ambos, em processos de prova, expiação e mesmo abnegação, a depender do caso, envolvendo também os pais e os irmãos, claro. É um estudo muito cativante. Refletir sobre a temática apresenta, como não poderia deixar de ser, a clareza e sabedoria das Leis Divinas, bem como a lógica da reencarnação e seu planejamento. Espíritos muito ligados, pelo amor ou pelo ódio, ou ainda por necessidades que não temos dimensão de avaliar, podem vir juntos numa gestação gemelar, em casos considerados de normalidade ou nos complexos processos de corpos ligados entre si, muitas vezes sem possibilidade de cirurgia que os separe.

Espíritos afinados no sentimento e nos propósitos podem vir juntos para determinadas tarefas ou missões e mesmo se candidatarem ao fato para progresso da ciência, ao mesmo tempo muitos pais cumprem programas reparatórios que igualmente não temos condições de avaliar ou mesmo conhecer, pelo menos na realidade palpável da presente encarnação.

Por outro lado, grandes adversários podem vir juntos para as tratativas de conciliação, enquanto outros casos mais graves se envolveram em tanto ódio que criam laços tão expressivos que depois se apresentam como os casos de siameses. Em nada, contudo, pode-se fechar raciocínios ou apresentar respostas prontas e definitivas. Não há dois casos iguais e cada caso atende a peculiaridades que nos escapam à observação comum e superficial. Um sábio planejamento de reencarnação está nos bastidores de cada situação, atendendo à necessidade de cada espírito envolvido com a temática, sejam pais, sejam filhos, sejam irmãos.

Enquanto isso, na realidade do cotidiano, a gente se descontrai com as situações curiosas, divertidas e em certos casos até embaraçosas com nossos gêmeos. Afinal parece um… mas é outro.  É engraçado porque às vezes até o jeito de sentar-se, a expressão do rosto e mesmo certos movimentos são idênticos e se você não prestar a atenção devida, vai se confundir…

Realidades que aí estão para todos aprendermos uns com os outros. Deus não dá explicações, estimula a reflexão para que entendamos a vida e seus sábios mecanismos.

 

 

 

 

 

 

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